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Entrevista com Grace Passô: A necessária resistência diante da barbárie


Crédito da foto: Nana Moraes

Nos dias 10 e 11 de maio, Ribeirão recebeu o espetáculo “Preto” da Companhia Brasileira de Teatro. As atrizes Renata Sorrah e Grace Passô encabeçaram o elenco. Grace Passô é o destaque absoluto da montagem que busca investigar o que gera a recusa das diferenças em nossa sociedade. Além de seu trabalho como atriz e dramaturga no teatro, Grace é atualmente um dos principais nomes do cinema brasileiro contemporâneo. Foi com muita honra e alegria que nós do Himalaia batemos esse papo com ela. A entrevista foi realizada por Eme Barbassa, também atriz e dramaturga.


Eme Barbassa: – Além de ser uma atriz de teatro e dramaturga, você também tem feito muito cinema, tem exercitado muito essa linguagem. Como você vê o atual desmonte do audiovisual no nosso país?


Grace Passô: – De um modo geral, existe o sucateamento, o desmonte, essa perseguição aos espaços e aquilo que historicamente viabiliza a existência da arte do Brasil, especificamente em relação ao cinema assim existe uma paralisia do trabalho. Existem vários projetos, de vários amigos que trabalham com cinema, projetos que eu mesma irei fazer que estão parados, paralisados.


É preciso se falar que a indústria cinematográfica movimenta empregos, mas muito mais do que essa competência capital, muito mais do que isso, o governo, o estado, precisam proteger o valor das coisas e o valor da arte como bem simbólico do país. Não só da arte. Um estado que só consegue se aliar a um ideal capitalista de vida, definitivamente não é respeitável. Definitivamente o atual governo está tentando criar uma ideia, querendo popularizar uma ideia da arte como algo menor. Isso é realmente muito triste. Acreditar que a arte é algo menor ou algo descartável é de fato uma miséria humana que a gente chegou. Diante dessa perseguição ao cinema brasileiro e também aos outros setores da arte, só nos resta entendermos as nossas possibilidades de resistência num momento tão caótico, tão cruel, tão injusto como esse.


Eme Barbassa: – Vivemos um momento muito polarizado no Brasil atualmente. Estamos vivendo uma disputa no campo das palavras. Temos um discurso histórico mentiroso que vem de um único ponto de vista; do homem branco, heterossexual, cisgênero e rico. Agora se tem uma disputa no campo da simbólico, vozes que historicamente foram excluídas começaram a ganhar lugar de fala. Numa entrevista num programa de grande repercussão nacional, o atual Presidente da República (Jair Bolsonaro) disse que racismo é uma coisa que não existe, que nosso país não tem esse problema. Como você enxerga tudo isso?


Grace Passô: – Existe uma banalização, sobretudo, uma naturalização da violência. Todos os tipos de violência. A violência mais escancarada dessa ideia de armamento, mal contada ou contada como uma grande mentira. Existe uma naturalização da violência no nosso país hoje. Essa fala é um posicionamento de um sujeito racista que ele é e que já demonstrou ser. O que você vai esperar de um sujeito como esse? Só a proliferação de mais violência, de ideias fascistas, que é o que está acontecendo nosso país. Eu nem tenho palavras para mensurar o quão triste e terrível é ver um fascista e um fascista completamente despreparado, que parece uma grande piada, no comando do Brasil. Daqui para frente, precisamos construir e dar espaço para que nasçam, como já vem acontecendo, lideranças que consigam refundar questões básicas em relação a convivência humana. Lideranças que tenham capacidade e humanidade suficientes para falar sobre sociedade, política, termos básicos como capitalismo, comunismo, socialismo, escola, negritude. Precisamos em todos os setores agora, criar espaços para pessoas que consigam ter a dimensão humana que é preciso ter na convivência, para que a sociedade de fato cresça no ponto de vista humano. Pessoas dispostas a recodificar palavras e também explicar coisas muito antigas e que agora no nosso tempo estão sendo difamadas de um jeito muito fácil e doloroso.

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