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Francisco, el Hombre no Sesc Ribeirão Preto


Confesso que conhecia bem pouco do repertório da banda Francisco, el Hombre (@franciscoelhombreoficial) quando o show deles foi anunciado pelo Sesc Ribeirão. Já tinha escutado “Triste, Louca ou Má” porque teve uma época que quase todas as mulheres da minhas redes sociais compartilharam essa música e também já tinha ouvido a música que eles fizeram para o Bolsonaro (sim, foi assim que a música chegou até mim). Então, assistir ao show foi uma grata surpresa.

De imediato o que me chamou a atenção foi a performance do cantor Mateo Piracés-Ugarte (@eusoumateo). O palco é dele. Ele canta. Pula. Grita. Agacha. Levanta. Interage com a plateia. Bebe cerveja. Tudo ao mesmo tempo agora. A primeira parte do show trouxe as canções do álbum novo chamado “RASGACABEZA” e sua sonoridade é bem abrangente. Parece um grande caldeirão de referências musicais. Estão lá o rock, a MPB, o eletrônico, a música latina e tantas e tantas outras possibilidades sonoras.


O show contou com um aparato cênico bastante interessante que climatizam cada estado musical, provocando catarse no público. A iluminação é bastante ostensiva e brinca com cores quentes e frias, buscando refletir sobre as simbologias possíveis por trás de cada uma delas. O vermelho tem uma simbologia forte dentro das músicas cantadas, principalmente em “Chama Adrenalina”.

As canções são ritualísticas e o público responde como num grande culto musical. Os espectadores cantam juntos, abrem e fecham rodas. Dão as mãos, choram. Se abraçam. Tudo sob o comando da banda. É mais que um show. É um ritual mesmo. Uma missa. Um culto. Algo sagrado. Tanto para os integrantes da banda, quanto para os fiéis espectadores.

Num dado momento outra figura emerge desse panteão. É a cantora Juliana Strassacapa (@ju.strassacapa). É dela a voz da canção mais popular da banda. Única mulher da banda, ela é o contraponto perfeito ao performático Mateo. Ela é minimalista, não exagera, fica quieta no mundinho dela. Mas quando chega sua hora de brilhar. Ela toma o palco. Vira uma gigante e emociona a todos.


“Triste, Louca ou Má” é mais que uma música. É um manifesto. Uma catarse necessária diante de um mundo que assassina, estupra e violenta mulheres pela sua condição de gênero. Eu conversei com a cantora após o show sobre seu processo de criação dessa música e sobre o quanto ela era significativa para nós, mulheres (cis e trans). Confira abaixo a resposta dela.

Nesse momento do show, Juliana convida às mulheres para se posicionarem à frente do palco. Algumas se dão as mãos. Outras choram. Todas cantam palavra por palavra da canção que parece nos querer fazer lembrar que somos mais do que aquilo que historicamente a sociedade espera do que se supõe ser feminino.


“Um homem não me define
Minha casa não me define Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar”

Juliana chega a pedir quase ao fim da música que as mulheres escrevam no espelho “Eu sou meu próprio lar” para se lembrarem de quem são. Sim! Porque é preciso se lembrar diariamente que somos mais, que somos melhores e maiores que pensamos. É preciso romper com os condicionamentos sócio-político-cultural que legitimam todos esses abusos diários contra mulheres. É preciso lembrar. É preciso resistir. É preciso amar. Sobretudo a si mesma, para assim poder amar ao próximo e aos longínquos.


Créditos: Todas as fotografias são da nossa fotógrafa Lisa Cristine (@lisaccristine).

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