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Foto do escritorEme Barbassa

Impressões do Festival João Rock 2019


Créditos: Inmersiva (produtora de conteúdo imersivo e marketing virtual 360) / facebook: @inmersiva / insta: @inmersiva.br

A cidade de Ribeirão Preto recebeu por mais um ano um dos maiores festivais de música do país. Nesse 19°, o Festival João Rock trouxe bandas de renome nacional e lotou o Parque Permanente de Exposições. O Himalaia esteve por lá e vai trazer alguns dos momentos mais importantes que rolou no sábado (15).


Já faz algum tempo que o festival vem abarcando outras possibilidades musicais além do rock e neste ano o Palco “Fortalecendo a Cena” foi um dos destaques. Entre os jornalistas de veículos do pais inteiro que estavam presentes era quase unânime essa opinião.


Rincon Sapiência foi um dos primeiros a se apresentar e trouxe muitas críticas sociais para o seu show. Djonga veio logo em seguida e levou o público ao delírio. Seu show foi considerado histórico por especialistas em música. Tendo como base o seu mais recente álbum “Ladrão”, o show foi pontuado por críticas ao racismo estrutural vivenciado pelos negros em nosso país. O grande diferencial do rapper é que não fala somente das agruras vividas no presente, mas as contextualiza com consciência social e histórica aguçada. Em entrevista declarou que “Tudo o que rola no Brasil no quesito político tem a ver com um processo histórico mais complicado. Começa na escravidão. Os efeitos dela nos trouxeram até aqui. Não tem como falar de nada do que rola no país no quesito social sem pensar no quanto a escravidão foi dolorosa. No final das contas, foi um período que prejudicou todo mundo, mas quem saiu mais fodido foram os negros que foram para as favelas e criaram comunidades para se defender, para se proteger, para viver, e que são os lugares mais pobres do nosso país [...]”.


O tom crítico também tomou conta do Palco Brasil e a coluna conversou com Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, dois dos integrantes remanescentes da banda “Legião Urbana” que desde 2015 voltaram a se apresentar com o nome do grupo trazendo o ator e cantor André Frateschi nos vocais. Dado declarou que “[...] é uma grande tragédia o que a gente vive todo dia, você pensar que uma música como “Que país é este” tem 41 anos, vai fazer duas gerações já já, enfim, é pra mostrar que a gente fala do Brasil e a gente continua falando sobre nós”. Bonfá acrescentou “É legal ver esse público renovado da “Legião”. Hoje eu consigo olhar e sentir o poder que a música para um jovem que não viu o que eu já vi. A parada fica séria”.


O tom politizado também tomou conta do palco principal. A banda Scalene se utilizou de um telão com imagens de políticos ao tocar a música “Distopia” que em sua letra diz “Homens de Terno / Podres por dentro / E a Bíblia na mão/ Pregam o ódio, intolerância / A cada sermão”. O público respondeu em coro gritando “Ei Bolsonaro, vai tomar no cu”. Ao final da apresentação, o vocalista Gustavo Bertoni disse ao microfone “Ele não é nosso Presidente”.


Zeca Baleiro foi ainda mais fundo e pediu “[...] impeachment ao novo presidente e queda do ministro da Justiça”, em referência aos vazamentos de conversa entre o ex-Juiz e atual Ministro da Justiça Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnoll divulgados pelo site “Intercept” no domingo (09 de Maio). Nessas conversas fica explícito que a Prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva teve um contexto político. O público respondeu com aplausos e novos xingamentos ao Presidente. Russo Passapusso, vocalista da banda Baiana System também criticou Sérgio Moro e pediu um olhar mais acurado para a arte e educação no nosso país. Segmentos que no atual governo estão sofrendo cortes e sanções.


Os rappers Emicida e Rael dialogaram com o show de Djonga e fizeram críticas contundentes ao racismo estrutural que enfrentam diariamente. Num país em que o Presidente da República diz num programa de televisão que “racismo não existe”, o show contou com um telão mostrando um trecho da série “Ó Pai Ó” em que os personagens vividos pelos atores Lázaro Ramos e Wagner Moura discutem sobre o que é ser negro numa sociedade racista. O público reagiu ovacionando os artistas.


Mas fazendo um teste do pescoço na pista premium (front stage) era possível ver poucos negros ali. Os ingressos para essa área custavam 680 reais (inteira). Emicida deixou esse incômodo explícito ao apontar para a pista solidária (área atrás da pista premium e com valor mais acessível) e dizer “eu estou vendo vocês”. A problemática racial ainda foi pontuada por Mano Brown na épica “Negro Drama”. Nesse momento algo muito sintomático aconteceu. Os policiais, seguranças, vendedores ambulantes e plateia cantavam os versos da música em uníssono.


A única mulher de toda a programação oficial foi mais uma vez Pitty. Ao ser perguntada pela nossa colunista Eme Barbassa sobre como se sentiu em relação a isso, ela saiu pela tangente. Veja vídeo da resposta dela abaixo:



As questões de gênero não tiveram manifestações contundentes. Justamente num momento em que o país discute a criminalização dos discursos de ódio ligado ao segmento LGBTQ+ é interessante notar que nenhum dos artistas se posicionou sobre esse assunto. Talvez porque nenhum artista com essa representatividade tenha sido convidado para tocar no festival. Então, fica o desejo de nossa plataforma e dessa colunista que vos escreve para que no próximo ano tenhamos mais mulheres e mais artistas com representatividade LGBTQ+. Porque não? A iniciativa e manutenção do João Rock já é incrível e pode ficar ainda melhor. Ribeirão e a música nacional agradecem! E que venha a 20° edição.

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