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Foto do escritorEme Barbassa

Impressões do Festival João Rock 2022


Crédito: Rafael Cautella
Crédito: Rafael Cautella

Depois de três anos e duas edições canceladas devido a pandemia de Covid-19, a cidade de Ribeirão Preto sediou mais uma vez o Festival João Rock. Ainda que o Coronavírus tenha dado às caras aos 45 do segundo tempo e causado o cancelamento da apresentação da banda Bayana System, o evento se realizou e foi um sucesso de público. Com ingressos esgotados, estima-se que mais de 70 mil pessoas assistiram aos shows no último final de semana.


Com um line-up que contava com 27 atrações, um dos grandes destaques dessa décima nona edição foi novamente o rapper Djonga. Ele que havia se apresentado no palco “Fortalecendo a Cena” em 2019 fez uma apresentação histórica dessa vez no Palco Principal. Corajoso, Djonga destilou todo o seu desprezo pela figura de Jair Bolsonaro numa cidade cujo índices eleitorais do

atual Presidente é altíssimo. Logo no início de sua apresentação, o rapper pediu que a plateia levantasse o dedo do meio e pensasse em alguém que “odeiam muito e que não respeitam”. Em uníssono, a plateia respondeu com xingamentos ao Presidente. Durante seu show, isso se repetiu por pelo menos outras três vezes. O ápice do show foi quando Djonga desceu até a público

para pedir “fogo nos racistas”. Em sua esmagadora maioria branca, a plateia foi ao delírio. Ao ser perguntado por Eme Barbassa, colunista do Himalaia, como enxergava essa aparente contradição, Djonga respondeu que isso é o “reflexo do que vemos lá fora, do que vemos no nosso dia a dia”. Veja a entrevista abaixo:

Outro que explicitou todo seu desdém ao Bolsonaro foi Emicida. Após o encerramento de “AmarElo, uma de suas músicas de maior sucesso, o rapper disse:

“Ei, faz um favor para mim. Chega ai outubro e manda esse lixo para o esgoto de onde ele nunca deveria ter saído”.

Emicida dividiu o palco com Criolo e Céu e apresentou um show intitulado “Amor, Ordem e Progresso” onde revisita o passado recente de nosso país e mostra como é possível sair de situações políticas terríveis como a ditadura militar, por exemplo. Nesse show-manifesto quase um grito engasgado, o trio refletiu de maneira poética a dureza de ser um artista contemporâneo. Através de um setlist poderoso os artistas explicitaram suas decepções para um governo que criminaliza a arte e os artistas e suas esperanças para um futuro melhor. Em entrevista, Emicida se mostrou cauteloso em relação ao que acontecerá em nosso país na próxima eleição: “São quatro meses para gente pensar em um passo que será dado para dar mais 200 mil passos. (...) A hora é agora!”.


Apesar de potente em sua mensagem, o show carece de mais ensaios e uma setlist mais enxuta. O público presente e também pelas redes sociais criticou o tempo demasiado longo da apresentação e a falta de entrosamento entre o trio.


A presença de palco e a voz anasalada da cantora Céu foram algumas das críticas ouvidas e lidas por aí. Essa colunista que vos escreve que já acompanhou um show da cantora também reparou que em alguns momentos ela estava com dificuldade de atingir as notas e os tons de algumas músicas. Talvez ela não estivesse num bom dia ou estivesse nervosa, mas como era a

menos conhecida do trio, merece voltar e cantar seu repertório autoral num dos outros palcos do evento.


Pitty e Nando Reis também sofreram do mesmo mal na estreia de seu show inédito. Por um lado, o repertório que une músicas da dupla encantou o público, mas ficou evidente que é preciso mais ensaios. Em vários momentos Nando Reis pareceu perdido, buscando em Pitty o alicerce necessário para saber o que fazer em cena. Além disso, o público não gostou tanto das versões

de Nando Reis das músicas famosas da cantora baiana. O Festival João Rock é a cara da Pitty, ela se apresenta aqui quase todo ano, literalmente estava em casa. Cantou, dançou e comandou o espetáculo e se saiu melhor nas performances das músicas de Nando Reis. As amarrações entre uma música e outra da dupla ficaram muito interessantes e o show deve crescer até a estreia

oficial em agosto.


Confiram alguns registros abaixo desses shows no último Festival João Rock:

Créditos: Denilson Santos e Francisco Cepeda


No geral, o João Rock se mostrou mais uma vez um acerto por trazer somente artistas nacionais para a cena. Esse é um dos seus maiores diferenciais e deve ser louvado. Entretanto, a line-up soou repetitiva, quase um déjà vu de outras recentes edições. Para a vigésima edição pede-se uma line-up mais inclusiva e que esteja alinhada ao seu tempo e que reflita sobre questões de gênero de maneira mais contundente. Soa como um absurdo que nenhuma mulher tenha subido ao palco sozinha nessa edição e que nenhum artista assumidamente LGBTQUIA+ tenha se apresentado em nenhum dos três palcos. Aliás, está na hora do João Rock ter um palco só com artistas que discutam e problematizem questões de gênero e sexualidade. Nosso país é profícuo nessa vertente. Em conversas com a apresentadora da TV Cultura Adriana Barros elencamos

atrações que mereciam se apresentar numa futura edição do João Rock:


Liniker, Glória Groove, Jão, Johnny Hooker, Letrux, Jup do Bairro, Filipe Catto...


Imaginem essas atrações num palco reunidas. Seria histórico! Então, vou encerrar esse texto da mesma maneira que encerrei o de 2019.


Fica aqui registrado o desejo dessa plataforma e dessa colunista para que no próximo ano tenhamos mais mulheres e mais artistas com representatividade LGBTQIA+. Como bem disse Emicida, a hora é agora! Que venha a vigésima edição!

2 comentários

2 Comments


isabellamoraesmendonca
Jun 23, 2022

Que matéria fantástica, amei! Frequento o JR há anos e sempre fui muito feliz! Amo muito também o Emicida, que lindo foi essa Line-up! Parabéns a todos!

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adrianadebarros20
Jul 26, 2022
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eu amei o texto também. este ano não pude ir mas sei que q Eme tem pensamentos muito parecidos com os meus. Vida longao ao O Himalaia


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