A cantora Elza Soares teve sua vida e obra homenageada no palco do Teatro Municipal de Ribeirão Preto na semana passada (24 e 25) com o musical “Elza”. Da menina habitante do planeta fome a mulher do fim do mundo, vemos como sua vida pessoal se entrelaçou com sua carreira, sendo quase impossível separar uma coisa da outra. Filha de uma lavadeira e de um
operário, essa mulher, negra, periférica sempre foi alvo de piadas e fofocas, tendo sempre que provar o tempo todo para os outros do que era capaz. Sua voz raríssima e peculiar trouxe reconhecimento e fama, enquanto isso, sua vida pessoal ia de mal a pior. Fez muito sucesso, foi esquecida e ridicularizada e voltou com tudo e mais um pouco aos 80 anos de idade com um álbum de inéditas onde canta sobre o necessário empoderamento da mulher face a barbárie de um mundo machista e patriarcal.
No musical, sete mulheres vivem Elza Soares em diferentes fases de sua vida. São elas: Larissa Luz, Késsia Estácio, Khrystal, Laís Lacôrte, Janamô, Verônica Bonfim. A banda é formada totalmente por mulheres e dão o suporte necessário para que o canto de Elza possa existir. Um econômico cenário dialoga com a marchinha “Lata D’água” de Luís Antonio e Jota Júnior eternizada na voz de Elza Soares e se utiliza de pequenos e grandes baldes de água para criar a ambientação necessária. O grande ápice do musical é quando todas cantam “A Carne” cujo versos dizem que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Nas duas apresentações em Ribeirão Preto o público aplaudiu de pé durante longos minutos. Uma verdadeira comoção tomou conta do palco. Fato que vem se repetindo em todas as apresentações do musical pelo Brasil afora.
P.s. de Lisa Cristine: pedi um espaço aqui para Eme para falar sobre a experiência que foi assistir o Musical Elza para mim, uma mulher negra. Quando vi todas as atrizes juntas na primeira cena o coração acelerou ainda sem muitas explicações. Elas correm para a frente do palco e logo se equilibram em cima de baldes, enquanto eu na plateia equilibrava a respiração. Sempre me avisaram "Lisa, é forte, você tem que ir" e ter visto elas na capa da programação do Sesc Ribeirão Preto no mês de abril foi como uma vitória, um sinal. Com dois dias de programação na cidade, acabei tendo a oportunidade de ir na quarta e também, na quinta-feira. No primeiro dia acompanhada da amiga e diretora de teatro, a Eme, que me fez sair de lá com trocas muito importantes sobre o musical. No outro, fui com o meu marido, o Bruno, que ficou impactado em diversos momentos e identificou cenários que ele mesmo assistiu mulheres próximas a ele passarem, como: sua mãe, sua avó, eu... "De que planeta você veio menina?" ou "Eu acho que essa negrinha apareceu demais!", são frases que percorram a história de Elza. De Elzas. De mim. Calafrio, teatro aplaudindo com fervor, pessoas choravam ao meu lado e eu finalmente fui tocada por um musical. Quem diria, quem diria. Eu realmente precisava está ali.
Créditos: Todas as fotografias são da nossa fotógrafa Lisa Cristine (@lisaccristine).
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